domingo, janeiro 21, 2007

Best Of 2006

A minha liberdade acaba onde a dos outros começa...

A notícia poderá ser alarmante para alguns: o Governo decidiu levar a aprovação um decreto-lei que proíbe fumar em local públicos fechados. Para além disso, proíbe também fumar no local de trabalho. Primeira contradição: o meu local de trabalho não é público! Só entra quem a administração quiser! Logo, porque carga de água os meus patrões podem ser multados só porque permitiram que os funcionários fumem no espaço de trabalho da empresa???
Espaços como restaurantes e bares vão ser abrangidos também por esta medida, excepto se tiverem uma separação física entre zonas de fumadores e não fumadores e desde que a zona reservada a fumadores tenha uma área igual ou superior a 100m2. Engraçado... sempre pensei que essa solução tinha sido abandonada depois do Gueto de Varsóvia, mas afinal não...
Se, por um lado, os não fumadores não devem ser obrigados a levar com a fumarada dos outros - concordo plenamente e subscrevo com selo branco - não será esta medida descriminatória para todos aqueles que fumam, pergunto eu.
Sim, eu sei (...que tudo são recordações...), nem me venham falar que é por uma razão de saúde pública que essa eu não engulo! Por esse ponto de vista, que tal obrigar todos os seropositivos e/ou portadores do HIV a usar uma banda amarela (desta vez sem a Estrela de David!) para nós os podermos reconhecer? Porque não obrigar todos os patos constipados e todas as galinhas resfriadas a usar uma banda roxa para nos precavermos contra a Gripe das Aves? Já agora, porque não colar na testa de todos os utentes que utilizaram o Serviço Nacional de Saúde nas últimas 24 horas um aviso do tipo: BIOHAZARD? Se fosse em clínicas privadas, seriam de cor diferente!...
Pois, pois, afinal é para ajudar a comparticipar o Orçamento dos Hospitais...
E que tal se começássemos pelos gigantescos ordenados dos gestores privados que nunca se encontram no serviço (jogar golfe em Vilamoura faz melhor para a saúde: lá ninguém está doente!) e que recebem indevidamente fundos que deveriam ser aplicados na melhoria das condições dos hospitais?
Por este prisma, porque não acabar definitivamente com os carros com motor a diesel, pois são mais poluentes e colocam, claro está, a saúde pública em perigo?
Porque não fechar todas as fábricas que fazem despejos ilegais nas águas dos rios, contaminando tudo e todos? Isso não é um caso de saúde pública? Multem-se as empresas para auxiliar o orçamento hospitalar! Multem-se os automobilistas para auxiliar o orçamento hospitalar!
O mais engraçado é que a grande maioria das pessoas que recorrem aos serviços de urgência, por exemplo, fazem-no por questões em nada relacionadas com o tabaco...
Multem-se as empresas que produzem tesouras, pois não evitam unhas encravadas, multem-se as mães, porque permitiram que os filhos andassem de bicicleta e caíssem e partissem um braço. Multem-se os fabricantes de bicicletas, pois estas não possuem airbags e depois os putos caem e partem os braços e racham a cabeça.
Multe-se a multidão de cidadãos de terceira idade que não tem mais nada para fazer do que fingir que é um condor (hoje com dor aqui, amanhã com dor ali...) e que enchem, por vezes desnecessariamente, os centros de saúde e os hospitais.
Agora, não me venham com estas tretas tentar legitimar o dinheiro que vai entrar para os cofres do Estado e, consequentemente, para o bolso de alguém que não o das pessoas que árdua e honestamente, têm os seus impostos em dia.Caso de saúde pública? pois, pois...
Auxilio ao orçamento? claro, claro...
Discriminação pura e dura, ao mais velho estilo hitleriano!!!E pensar que os meus pais lutaram um dia para que este país vivesse em liberdade...
O que eles não sabiam é que esta acaba onde a dos outros começa......
E isso, irrita-me profundamente!...

4 comentários:

Anónimo disse...

Antes de mais, parabéns pelo comentário acerca do governo, no blog do Alien. Subscrevo na íntegra.

Quanto a este post,e embora seja fumador, não posso subscrever.
O direito a fumar só pode equiparar-se ao de não fumar quando um não interfira no outro.
Aqui coloca-se, a meu ver, a questão fulcral: o fumador ao exercer o seu (legítimo) direito não poderá jamais prejudicar a saúde do não fumador, até porque o contrário não se verifica.
O facto de alguém não fumar perto de ti não te prejudica, fiz-me entender?
Enquanto fumador, assumido mas não orgulhoso, sou muitas vezes confrontado em restaurantes com situações desagradáveis, como a do fulano da mesa ao lado que acaba a sua refeição mais cedo e começa a fumar sem o mínimo respeito por quem está a comer.
Nestes casos eu penso que se deve sobrepor sempre o direito de usufruto, ou seja, se aquilo é umrestaurante parte-se do princípio que é para comer, logo, fumar é secundário e em caso de conflito de interesses deve ser suprimido.

Quanto aos locais de trabalho, eu não fumo por opção mas defendo a mesma regra, desde que haja um não fumador, ou fumador que se oponha, deve ser proíbido fumar.

Depois, claro, temos os fundamentalistas (tipo americanos) que até já proibem fumar na rua, esses são os talibãs do tabaco.

Karl Macx disse...

Bem, Vizinho, em primeiro lugar obrigado pelas palavras simpáticas e pelo comentário. Devo dizer, em minha defesa, que este post foi escrito no início de 2006 e que, poucas semanas depois, deixei de fumar, após 17 anos de vício (comecei a fumar com 11 anos!!!!).
Não procuro fazer a apologia do fumador. Subscrevo inteiramente que os não fumadores não devem ser prejudicados pelos que fumam. Mas ainda mantenho a minha opinião (mesmo tendo deixado de fumar à mais de 7 meses) de que não podemos passar a tratar os fumadores como se fossem um lixo. Ao cortarmos as liberdades individuais dos fumadores em prol de uma pseudo-questão de saúde pública, abrimos um grave precedente. Quem nos garante que de hoje para amanhã, os HIV positivos não serão obrigados a comer numa sala só para eles? Mantenho a minha posição quanto à hipocrisia do Estado que, ao mesmo tempo que aumenta a percentagem do imposto cobrado por um maço de tabaco, finge estar deveras preocupado com a saúde pública. É isso que me irrita e que a ti, enquanto fumador (que já devia ter desistido de fumar, pois é mais fácil do que parece e nem precisas de pastilhas e selos) também deveria (a acredito que sim) irritar. Como é que podemos marginalizar os fumadores e, ao mesmo tempo, ter a lata de lhes ir buscar mais impostos? Já agora, tens ido ao hospital ultimamente? Tens visto a aplicação do dinheiro do imposto que pagas quando compras um maço de cigarros? Já agora, se ficares doente e tiveres de ser internado, por seres fumador tens direito a isenção de taxa de internamento? Afinal de contas, estás a contribuir ainda mais do que o restante da população para o SNS...
Não me parece.
Por isso escrevi este post. Porque quando a hipocrisia é gritante devemos ser nós, os contribuintes, a dar o exemplo. E, neste caso concreto, os fumadores ainda mais. Fumar é mau? É. Mas também temos de gramar a pastilha com os atrasados mentais que andam nas nossas estradas e a esse ninguém lhes pede contas...

Moby disse...

Caro amigo,

A questão fundamental não é marginalizar o ser humano fumador, mas sim separar o ser humano fumador enquanto fuma, dos seres humanos não fumadores.
Creio por isso que o direito do fumador se mantém, mas agora defendendo direitos que até hoje não foram protegidos. Sou ex-fumador há 2 anos e sinto-me mal em ambientes onde o fumo predomina sobre o oxigénio. Compreendo a necessidade do fumador após uma boa refeição, mas esse fumador não entende a minha necessidade de uma boa refeição sem fumo.

Na prática é na mentalidade das pessoas que se deve trabalhar, e acima de tudo na consciência de cada um. Isto não é um processo de marginalização, mas sim de reorganização dos hábitos sociais.

Anónimo disse...

Sobre esta polémicas sugiro uma visita a:

Timorcartoon.blogspot.com
Vão Gostar

anA
anApintura.blogspot.com (só se tiverem tempo)