sexta-feira, abril 07, 2006

A minha liberdade acaba onde a dos outros começa...

A notícia poderá ser alarmante para alguns: o Governo decidiu levar a aprovação um decreto-lei que proíbe fumar em local públicos fechados. Para além disso, proíbe também fumar no local de trabalho. Primeira contradição: o meu local de trabalho não é público! Só entra quem a administração quiser! Logo, porque carga de água os meus patrões podem ser multados só porque permitiram que os funcionários fumem no espaço de trabalho da empresa???
Espaços como restaurantes e bares vão ser abrangidos também por esta medida, excepto se tiverem uma separação física entre zonas de fumadores e não fumadores e desde que a zona reservada a fumadores tenha uma área igual ou superior a 100m2. Engraçado... sempre pensei que essa solução tinha sido abandonada depois do Gueto de Varsóvia, mas afinal não....
Se, por um lado, os não fumadores não devem ser obrigados a levar com a fumarada dos outros - concordo plenamente e subscrevo com selo branco - não será esta medida descriminatória para todos aqueles que fumam, pergunto eu.
Sim, eu sei (...que tudo são recordações...), nem me venham falar que é por uma razão de saúde pública que essa eu não engulo! Por esse ponto de vista, que tal obrigar todos os seropositivos e/ou portadores do HIV a usar uma banda amarela (desta vez sem a Estrela de David!) para nós os podermos reconhecer? Porque não obrigar todos os patos constipados e todas as galinhas resfriadas a usar uma banda roxa para nos precavermos contra a Gripe das Aves? Já agora, porque não colar na testa de todos os utentes que utilizaram o Serviço Nacional de Saúde nas últimas 24 horas um aviso do tipo: BIOHAZARD? Se fosse em clínicas privadas, seriam de cor diferente!...
Pois, pois, afinal é para ajudar a comparticipar o Orçamento dos Hospitais...
E que tal se começássemos pelos gigantescos ordenados dos gestores privados que nunca se encontram no serviço (jogar golfe em Vilamoura faz melhor para a saúde: lá ninguém está doente!) e que recebem indevidamente fundos que deveriam ser aplicados na melhoria das condições dos hospitais?
Por este prisma, porque não acabar definitivamente com os carros com motor a diesel, pois são mais poluentes e colocam, claro está, a saúde pública em perigo?
Porque não fechar todas as fábricas que fazem despejos ilegais nas águas dos rios, contaminando tudo e todos? Isso não é um caso de saúde pública? Multem-se as empresas para auxiliar o orçamento hospitalar! Multem-se os automobilistas para auxiliar o orçamento hospitalar!
O mais engraçado é que a grande maioria das pessoas que recorrem aos serviços de urgência, por exemplo, fazem-no por questões em nada relacionadas com o tabaco...
Multem-se as empresas que produzem tesouras, pois não evitam unhas encravadas, multem-se as mães, porque permitiram que os filhos andassem de bicicleta e caíssem e partissem um braço. Multem-se os fabricantes de bicicletas, pois estas não possuem airbags e depois os putos caem e partem os braços e racham a cabeça.
Multe-se a multidão de cidadãos de terceira idade que não tem mais nada para fazer do que fingir que é um condor (hoje com dor aqui, amanhã com dor ali...) e que enchem, por vezes desnecessariamente, os centros de saúde e os hospitais.
Agora, não me venham com estas tretas tentar legitimar o dinheiro que vai entrar para os cofres do Estado e, consequentemente, para o bolso de alguém que não o das pessoas que árdua e honestamente, têm os seus impostos em dia.
Caso de saúde pública? pois, pois...
Auxilio ao orçamento? claro, claro...
Discriminação pura e dura, ao mais velho estilo hitleriano!!!
E pensar que os meus pais lutaram um dia para que este país vivesse em liberdade...
O que eles não sabiam é que esta acaba onde a dos outros começa...



... E isso, irrita-me profundamente!...